Perdão, do latim perdonare, per (completo) + donare (doar). Então quando perdoamos alguém nos doamos por completo a ela? Mas doar-se por completo não seria amar alguém?
Diante das dúvidas, fiz uma viagem no tempo para falar um pouco do tema. Descobri que a memória que tenho sobre a palavra “perdão” vem da igreja. Nas homilias sempre ouvia o padre dizer: “É preciso perdoar”, “é perdoando que se é perdoado”. Não me lembro de ter ouvido essa palavra em casa, na família, no trabalho ou na escola. Perdão pra mim, portanto, sempre teve um viés religioso.
Mas quando você cresce e descobre que a vida precisa ser vivida por você e não pelos outros, tanto o perdão quanto o amor deixam de ser abstratos tornando-se reais. E aí o que acontece? O discurso continua sendo o mesmo, mas a prática muda.
Ouço muita gente dizer: Se você esqueceu o mal que alguém te fez, então você perdoou essa pessoa. Será? Penso que perdoar não é esquecer, porque as pessoas sempre vão lembrar. Comumente recordamos dos bons atos que nos foram proporcionados, mas permanentemente lembramos o que de ruim nos aconteceu. Nessa lógica, se perdoar é esquecer, ninguém perdoa! Mas vivemos numa sociedade onde é bonito dizer que perdoou, principalmente quando esse perdão é divulgado para os outros e não vivido internamente por cada um.
Penso que perdão tem mais a ver com maturidade que com esquecimento. Vejamos então: Se você ama muito alguém e esse alguém te trai, você esquece? Acredito que não. O perdão virá com o tempo, não sendo sinônimo de deslembrança, e sim de amadurecimento. A cicatrização da ferida, portanto, só será completa quando você se maturar e compreender que o remédio não está no outro, mas em você.
Por fim, acredito que perdão e amor são palavras sinônimas e ao mesmo tempo se completam. Drummond em seu poema Amor e seu tempo finaliza com o verso: “Amor começa tarde”. Eu acrescentaria: “Perdão também”.